Era um quarto escuro. Amplo, não muito arejado. Faltavam-lhe alguns móveis. No canto direito, em uma cadeira rústica de madeira, toda envernizada, estava ele, sentado, com um roupão grosso de algodão e cigarro na mão. Ao lado, uma pequena mesa e uma garrafa de whisky. Seu aspecto era sombrio. Seus olhos cor de mel, avermelhados de dor. Movi meus pés descalços adiante. O chão estava gelado demais. Ajoelhei-me diante dele, e o fitei. Dava uma tragada, seus dedos se desprendiam do cigarro e cruzavam-se de novo, segurando-o. Prendia o ar, puxavam, e soltava aquela fumaça branca e com cheiro ruim. O ar ficava mais pesado quando ele fazia isso. Parecia um castigo para mim. E quando ele tragava, e soltava, a fumaça se transformava em formas psicodélicas e de várias cores.
- Então você cresceu. Seu corpo mirrado evoluiu. A carne de seu rosto esticou. Seu crânio está saliente. Tem se alimentado? - Disse ele num tom sóbrio.
Eu não pude responder logo de cara. A voz dele soava como trovão, e meu espírito estremecia de temor ao ouvi-lo falar, Meu coração pulava de medo.
O silêncio pairou sobre nós. Ele não fez indagações. Porém, finalmente criei coragem e retruquei:
- Meu corpo não é o mesmo. Meu rosto mudou um pouco. Eu não sou mais aquela que você tanto amava. Estive doente. Faleci!
Minha voz saiu trêmula mais de cansaço que de medo.
- Você e seus devaneios. - disse ele em tom debochado. - Nunca muda seu jeito de pensar e agir.- E lá se foi uma doe de whisky. -No final, você continua sendo a mesma de sempre. Não mudou nada, só a cara.
- Talvez. Você também não mudou. No final, somos iguais.
Meu alma ardia de temor ao dizer tais palavras. E minha boca já estava adormecida. Pousou o cigarro num cinzeiro velho que descansava na mesinha, passou as mãos entre o rosto, em seguida segurou o queixo e olhou para mim.
- O que foi que eu fiz?! - Indagou, agora de cabeça baixa. - Que foi que eu fiz?!
E chorou.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário