domingo, 25 de abril de 2010

Conto. Ou fato. Fato. Ou conto.

Lembro-me de uma vez, antes daquela do beijo, eu estava em casa sozinha e o tédio começava a tomar conta de mim. Estava sentada aqui como comumente, e de repente, resolvi ligar para ele. Estava no serviço, e ia sair em uma hora mais ou menos. Liguei para ele, e marquei de nos encontrarmos perto de seu serviço. Nesse época, ele trabalhava numa empresa de vendas de cozinhas. Tinha acabado de ser contratado, e estava feliz. Precisava daquele emprego, pois, morava só, e tinha que se sustentar. O emprego era bom; saláro + benefícios e etc. E era uma empresa séria, como ele mesmo me disse.

Marquei de nos encontrarmos. Esperei impacientemente, contando os minutos e, os segundos. Não vesti minha melhor roupa. Não era um encontro; eu só queria conversar. E o ver, claro. Arrumei-me como de costume, deixei um bilhete para minha mãe, desci as escadas, atravessei a rua e esperei ônibus. Parecia uma eternidade. O ônibus demorava, e isso me deixara furiosa. Já haviam se passado uns dez minutos após o horário marcado. Ele poderia não esperar, ir para casa sozinho, tomar um banho e sair com alguns amigos, sei lá. E, poderia ficar chateado, achando que eu dei ‘bolo’. Enfim o ônibus chega, para meu alívio. Ainda tinha alguns minutos. Em qualquer situação espera-se que a pessoa tenha pelo menos meia hora de tolerância no quesito: horários. E ele era muito paciente. As nuvens negras já cobriam o céu, dando a entender que uma pancada de chuva ia cair em pouco tempo.

“Droga! Esqueci meu guarda-chuva”- pensei eu. Uma curiosidade que eu não sabia (é, eu não sabia disso MESMO) é que na verdade, eu havia esquecido minha sombrinha, e não meu guarda chuva. Eu não tenho um guarda-chuva de verdade. Eu tinha uma sombrinha, que é utilizada em dias de sol, quando o calor está insuportável. Um outro fato é que minha mãe REALMENTE usa a sombrinha de forma correta, o que minha irmã acha um absurdo, pois, ninguém usa sombrinha em dias ensolarados. “Vai pagar mico!” diz ela.

Desci do ônibus, e fui caminhando até o lugar marcado. Lá estava ele. Olhos cinzentos, baixos, fixos ao chão. Devia estar cansado, mas parecia-me mais pensativo. Abri um sorriso em direção à ele, ao que ele me respondeu com um olhar vago. Havia algo errado, e eu já sabia o que era. Não vale por aqui. É algo muito íntimo, algo dele e não meu. Não posso por isso aqui. Mas eu sabia o que era.

Era incrível como a beleza de era...encantadora. Mesmo naquela paisagem turbulenta, naquele tempo negro, seus olhos luziam, e mesmo sério, sua aparência era branda demais. Ele estava assustadoramente pensativo. Nunca o havia visto assim. Comecei à tagarelar como comumente, mas ele só me respondia: ‘sim’, ‘sim, ‘não’,’ não’...ou às vezes...’hmmmm’.

Pingos grossos de chuva começaram a cair, e meu medo de molhar meu cabelo (mulheres¬¬) fez com que eu ficasse irritada. Claro que, meu intuito desde o começo disso tudo era ir para o ‘cantinho’ dele. Eu gostava de lá. Por mais simples que fosse, ou mais humilde, como ele dizia, aquele era o cantinho dele. Era onde eu me sentia tranqüila, onde eu ficava em paz. E tudo que era dele, era meu de alguma forma. Porque ele era meu.

Não vou ficar narrando aqui como e que horas chegamos em sua casa. O fato é: chegamos e ponto! Comemos juntos, conversamos um pouco. Ele já estava melhor. Foi aí que...bem ..Não preciso dizer muita coisa. Aliás, não devo dizer, pois não ocorreu tanta coisa. Foram pequenas, mas, tiveram sua intensidade. Ele havia tirado sua camisa assim que chegamos, de modo que, seu peito estava exposto à mim. Não preciso lhe dizer o efeito que isso causou em mim, não que eu nunca o tivesse visto daquele jeito, mas aquele era o momento em que eu mais precisava dele. Era o momento em que minha alma precisava de sua voz macia, seus sussurros, suas carícias e...Ah! Ele tinha uma pele tão macia! Branquinha, quase se podia ver suas veias...ele era bonito. De fato, era realmente bonito. Ele era magro, mas não tanto. Tinha um corpo bonito, mas não possuía corpo de ‘freqüentador de academias’. Era esbelto, e me chamava à atenção. Aliás, tudo nele me era chamativo. Tudo nele era atrativo. Seu rosto, seu corpo, sua voz, seu cheiro... Eucalipto e canela. Pois bem: num ato súbito, sucumbi aos meus próprios desejos. E ele aos seus. Nada demais aos seus olhos, mas, aos nossos olhos e às nossas almas eram mais que qualquer coisa; eram TUDO! De beijos vulcânicos, à carícias mais ternas. Ele era alguém realmente...intenso. E essa intensidade me saciava com apenas um gesto ou palavra. Dois corpos na parede, quase ao chão. Ah...não é válido pôr aqui palavras ou gestos. Só os beijos que dei nele. Ah, lábios venenosamente deliciosos! E quanto mais eu o beijava, mais eu queria daquele veneno. Puro e doce veneno. Dedos trêmulos, que várias vezes passeavam pela minha nuca, puxando delicadamente meus cabelos. Hálito quente, que pude sentir ao passo que sua respiração aumentava. E eu sentia cada carícia como chamas de uma pequena vela. Uma coisa que poucas pessoas sabem é que eu tenho muito medo do fogo. Porém, passo muito tempo admirando velas. Gosto delas, e por várias vezes, já cheguei a derramar um pouco de sua cera em minha pele. Parece um pouco sádico, mas, depois que você faz isso, sua pele se acostuma à dor. Quase não se sente. Porém, naquele dia eu senti a chama arder intensamente! A casa inteira estava queimando: as janelas, o sofá, as paredes...tudo em chamas! Por apenas um beijo. Ah, eu não posso dizer muita coisa. Estávamos um a um. Dois corpos na parede; uma só pessoa. Porque nós éramos iguais. A mesma pessoa. E só tínhamos um ao outro. Naquele momento, e em todos os momentos. Éramos somente ele e eu. Ou somente ele. Ou eu.

Demais não acha? Ou não. Demais só para mim. Foi o máximo que pude. O máximo que pude suportar. Olhá-lo, beijá-lo, acariciá-lo não era algo tão... fácil para mim. Não quando se tem pensamentos e sentimentos egoístas. Não quando se tem orgulho demais, ou quando os egos são diferentes e fortes o suficiente para não sucumbirem um ao outro (R.D). Mas, sucumbimos. E foi o máximo que meu ego pôde suportar. Parei. Tive de parar, respirar e voltar ao meu estado ‘normal’. essa altura eu não estava bem. Não mesmo. Coração acelerado, tremedeiras...pele quente. Levantei-me ao passo que ele continuava lá... Ao chão...respiração pesada, olhos fechados, ao que ele sibilava: “Summertime....and the livin' is easy...”

Olhei-o pela última vez; virei-me, e andando em direção à porta, eu o ouvi murmurar algo. Não me recordo bem o que era, mas sei que era importante. Mas, fiz QUESTÃO de não ouvir ou esquecer...Na verdade, eu não me lembro muito. E prefiro não lembrar. Precisava ir. Você deve se perguntar: Por que diabos ela sempre foge? Porque meu caro, minha cara...eu simplesmente tenho MUITO medo do fogo, lembra?

A única coisa que não saía da minha cabeça era da voz dele cantando para si: ‘Summertime....and the livin' is easy...’

4 comentários:

  1. - Tão intenso e misterioso como eu imagino que será cada um dos seus post's!Definitivamente,maravilhoso!

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  2. liiiiiiiindo *-*

    http://oiglam.blogspot.com/

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  3. nossa! demais seu conto! digno de livro best seller! genial!

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